Nada
Nestes
últimos dias, meu desejo é sumir, despojar-me de mim mesmo, assumir nenhuma
outra identidade, ser um apátrida, vestir diversas mascaras sem expressões, vestir
de preto, pintar meu quarto de preto, arrancar meus membros, ser um objeto
inanimado no vácuo, inerte, solitário e sem valor.
Ser
nada, no nada, para nada.
Mas
mesmo assim, talvez, não me sentiria aliviado ou feliz, pelo simples fato de
existir, logo, de pensar. Sou escravo de meus pensamentos. Eles não cessam, não
param, não descansam, não conhecem a palavra não. São impetuosos, profundos,
avarentos, egoístas e confusos. Eles trazem imagens, e não quero mais ver
imagens, estou cansado de imagens.
Provocam
agonia e retorcem minhas entranhas, me levam ao desespero e fazem-me, ou
melhor, me forçam a fazer algo que nesses dias eu simplesmente não desejo
fazer: existir.
Talvez,
quem sabe, se eu não existisse não te amaria tanto assim, tão perdidamente e
tão profundamente, aí então, não sofreria tanto por tua rejeição...
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